Dístico de Honraria
Paguei em ouro o gesto mais discreto,
na bolsa das promessas, alta e oca;
o pregão respondeu sem voz nem troca,
fechou-se o dia em débito secreto.
Assinei com o peito o contrato estreito,
aceitei o custeio do cuidado;
e tu fizeste o preço ao meu despeito,
leiloando o silêncio por trocado.
Aprendi tarde a língua da balança,
que peso não é preço nem perdão;
que a falta tem método e cobrança,
mas não recebe juros de ilusão.
Fiz o inventário do que em ti não preste,
arquivei, linha a linha, a omissão;
a ausência assinou recibo em minha veste,
com tinta fria na mão da negação.
Lancei depreciação no brilho agreste,
cortei do ativo o louro da ilusão;
fechei o caixa: o saldo que me reste
é músculo discreto em revalorização.
Fiz auditoria no que me ofereces,
cotei o riso em lúcida previsão;
descartei o lucro rápido que enlouquece,
preferi capital com base em compaixão.
Troquei de câmbio: o afeto tem paridade,
não cotação de feira nem favor;
corrigi a taxa interna da bondade,
distingui preço, promessa e calor.
Fiz hedge de mim contra a tempestade,
não para fugir: para ir melhor;
onde oferta encontra reciprocidade,
e a dívida antiga se converte em valor.
Revoguei cláusulas de autopenitência,
que cobravam do peito além do justo;
criei um fundo calmo de paciência,
que rende atenção, sem escândalo ou custo.
E se outro amor vier sem transparência,
não assino: exijo o selo da decência.
Por ato próprio, lavro em ata permanente:
“meu valor não se vende” — eis minha patente.

